Desde um início de sua formação até os dias de hoje, a capoeira diferenciou-se em diferentes "estilos", cada um marcado por suas visões próprias, hábitos específicos e interações com a cultura local de cada região. Atualmente, essas diferentes leituras acerca da capoeira estão manifestas através da prática dos diferentes grupos e declaradas em duas principais vertentes: a capoeira de Angola, que possui como referência Mestre Pastinha, e a capoeira regional, que tem como seu principal personagem Mestre Bimba.
A capoeira Angola, diferencia-se da luta regional baiana de Mestre Bimba por possuir maior enfâse em características como o jogo, a brincadeira e a busca pela ancestralidade, possuindo em regra movimentos mais lentos, rasteiros e lúdicos. Na "roda de Angola" coexistem diferentes estéticas relativas aos seus diversos grupos e a individualidade de cada "angoleiro", onde o objetivo é a busca intensiva e recíproca pelo "asé", dentro dos fundamentos da arte.
A capoeira Angola não tem uma data definida em que teria sido criada, nem uma pessoa a quem possamos atribuir com certeza a sua criação. Apesar disto, sempre que falamos de capoeira Angola temos o nome de Mestre Pastinha (Vicente Ferreira Pastinha, 1889 - 1981) associado a ela. Pastinha foi um grande defensor da capoeira Angola, divulgando-a e introduzindo-a na sociedade de um modo geral, fazendo, assim, com que a capoeira deixasse de ser vista tão somente como uma luta marginalizada praticada por vândalos e arruaceiros, ao mesmo tempo em que criava a primeira escola de capoeira angola criada no Brasil.
Pastinha defendia arduamente a capoeira Angola, e pretendia, assim, fazer com que esta mantivesse sua força, não perdendo suas principais características. Para isto, divulgou a capoeira até onde pôde e como pode: fez muitas viagens ao exterior, inclusive para África, como principal representante da capoeira. Pastinha também formou muitos alunos, garantindo, assim, o futuro da capoeira angola.
Atualmente, existem algumas associações que representam exclusivamente a capoeira Angola e buscam, principalmente, resgatar as antigas tradições da Angola, já que não só ela, mas a capoeira no geral, evoluiu e hoje em dia apresenta diferenças próprias da renovação das tradições. Graças ao esforço de muitos Mestres e pessoas envolvidas com a capoeira.
MALÍCIA: Todos os verdadeiros mestres concordam em admitir que este é um importante fundamento da capoeira. ou seja. a habilidade e surpreender o adversário, de “fechar-se” e evitar ser apanhado de surpresa pelo outro. O bom capoeirista está sempre “fechado”. O angoleiro distrai seu rival, brinca com ele, engana-o, mostrando-se desprotegido, para ser atacado justamente onde deseja e, assim, lançar seu contra-ataque com mais eficácia.
COMPLEMENTAÇÃO: Os dois jogadores ficam atentos aos movimentos um do outro e sempre se deslocam, atacam. ou se defendem em função do que fizer o adversário, ou para provocar determinado movimento deste. Joga-se sempre perto do rival e respondendo a seus movimentos através de ataques. defesas e contra-ataques. Os capoeiristas não devem entrar em choque direto. porque assim a harmonia do jogo será rompida. É preciso contribuir para criar essa harmonia desenvolvendo o próprio jogo, mas deixando que o adversário possa fazer o seu próprio. E preciso jogar e deixa jogar.
JOGO BAIXO: O jogo de Angola tem movimentos predominantemente (mas não apenas) baixos, isto significa que, embora grande parte dos movimentos requeira que ambas as mãos estejam apoiadas no chão, as pernadas são em geral, de pouca altura, e as posições de guarda (com as quais se espera o movimento do rival e se prepara o próprio) exigem que as pernas estejam flexionadas e o tronco e a cintura a baixa altura. Ao contrario do estereótipo, Angola também se joga em pé, mas as pernadas são baixas.
AUSÊNCIA DE VIOLÊNCIA: Na capoeira angola, os jogos. em geral são exatamente isso - Jogos. Pretende-se atingir o adversário com alguns golpes, evitar que ele nos alcance, mas na angola bem feita, jogada por verdadeiros angoleiros, a luta (no sentido de atingir o adversário) está sempre inseparavelmente misturada com o jogo.
MOVIMENTOS BONITOS: Este é um dos elementos mais importantes na Capoeira Angola e dos menos entendidos. Nesta mistura de luta e jogo, o elemento estético adquire grande importância. Mas é uma estética própria, que surge do contexto étnico afro-brasileiro). Essa característica se soma as anteriores, e, embora o angoleiro procure fazer movimentos bonitos, é difícil ver um jogador ficar desprotegido por fazer um movimento belo ou interromper a harmonia do jogo para fazer uma pirueta.
MÚSICA LENTA: A Capoeira Angola é cadenciada e se realiza com ritmo lento em comparação com o de outras variantes. E um jogo de domínio do corpo. mas também de mente. Num bom aprendizado os movimentos de um jogo são esmiuçados e as várias possibilidades de ação estudadas, como num jogo de xadrez. A descontração do corpo e os movimentos lentos permitem que os jogos de angola sejam muito mais demorados.
IMPORTÂNCIA DO RITUAL: A capoeira é um jogo com regras não escritas mas que, assim mesmo, estão presentes e regem seu desenrolar. No caso da Angola, o conhecimento dessas regras é muito importante. Não se pode ser um bom angoleiro quando não se sabe direito quando sair do pé do berimbau, que gestos invocando proteção se realizam antes disso ou como se faz adequadamente uma “chamada”.
TEATRALIDADE: Esse é outro aspecto geralmente relegado quando se fala de capoeira. Na prática, cada vez mais é deixado de lado como coisa do passado. No entanto, as expressões no rosto, os movimentos das mãos, fingindo medo, distração, alegria, convidando o adversário a jogar ou distraindo sua atenção; a maneira como certas canções são gestualizadas; tudo isso faz parte da essência da capoeira Angola.